sábado, 28 de junho de 2014

Pode-se mudar de canal?

Todos os anos assistimos à mesma telenovela. Seja nos exames (de Matemática) de  12º, seja nas provas finais de 4º, 6º ou 9º, ou mesmo em testes intermédios, as variações são poucas.
A culpa é um pouco da comunicação social e da falta de bom senso de muita gente.
Há os que acham o exame excessivamente difícil, os que acham que foi fácil, os que acham que foi adequado, os que acham que foi inadequado... Há para todos os gostos.
No caso da Matemática temos tido duas organizações a emitir opiniões que deviam ser tidas em consideração: A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) e a Associação de Professores de Matemática (APM).
Desde há alguns anos que a APM tem emitido algumas opiniões (felizmente não todas) que me deixam perplexo, e que não deviam vir de quem está a ensinar Matemática.
A SPM tem conseguido emitir opiniões mais equilibradas e a meu ver justas (pelo menos que eu me lembre, até hoje não tenho visto muitas com que eu possa discordar).

Tem-se combatido muito a memorização e apostado no raciocínio... Concordo com a aposta no raciocínio mas não compreendo o porquê deste combate à memorização. A memorização deve fazer parte da formação em Matemática. Não é prejudicial a ninguém saber as tabuadas, a fórmula resolvente ou mesmo as fórmulas de áreas e volumes. Discordo que sejam coisas que só interessem a matemáticos! A memória deve ser treinada! Penso que as únicas pessoas a quem interessa um povo de memória curta são as pessoas de certa classe política!
Acho ridículo ver a fórmula resolvente ou mesmo a fórmula fundamental da trigonometria num formulário de 9º ano. Os alunos deviam treinar essas coisas até saberem as fórmulas!

Posso dizer o mesmo sobre as fórmulas de limites, de derivação, de trigonometria, e mesmo as fórmulas de De Moivre para os alunos de Matemática A no final do 12º ano.

Há anos que andamos a "brincar" à Matemática, nivelando por baixo o que os alunos devem saber.
A falta de exigência no ensino dá-nos boas estatísticas mas alunos com uma formação (muito) deficiente.

Todos os anos chegam-me alunos a pedir explicações porque não estudam, de repente apanharam um professor mais exigente, mas muitas vezes bom professor,  e esperam que a explicação faça o milagre de compensar a falta de estudo...

A mentalidade do facilitismo, dos resultados com pouco esforço e com pouca exigência é que tem de mudar em Portugal.
Não confundam facilitismo com aprendizagem!

Voltando ao assunto inicial, a novela das opiniões sobre exames não passa de uma telenovela estúpida, onde se vê gente a falar com base em opiniões que leu, ou ouviu, mas sem ter conhecimento de causa, gente que  emitiu uma opinião por razões "políticas", gente que diz que é difícil porque na verdade, não fez o seu trabalho, gente para quem é sempre acessível e equilibrado porque não avalia todas as componentes... por isso não gosto de dar opiniões sobre os exames.
Obviamente que para um professor/explicador/matemático decente são sempre fáceis.
Mas temos de ter em conta as pessoas a quem os exames estão destinados e dar pouco peso a como correu o ano lectivo ( porque que muda de escola para escola, de professor para professor, e até de aluno para aluno, isso é outra história que deve ser avaliada à parte..).

Nos últimos anos, sem dar por isso (cof cof cof) muitos professores habituaram-se à política do facilitismo, e portanto não é de admirar a frequente divergência de opiniões entre APM e SPM...

Em Portugal o problema da Matemática é e sempre foi cultural... mas isso (também) é outra história.

PS: por exemplo esta notícia: http://www.noticiasaominuto.com/pais/240734/alunos-obrigados-a-calculo-universitario-em-exame-nacional é um autêntico disparate! (ver aqui).
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