quinta-feira, 21 de julho de 2016

A banha de cobra no acesso ao ensino superior...

Na semana passada saíram os resultados dos exames do ensino secundário. Agora os alunos começam a tratar da sua candidatura ao ensino superior.
Nisto alguns jornais começam a mostrar listas de cursos com desemprego a 0%.
E aqui é que a porca torce o rabo...
Desses cursos, quantos têm alunos a trabalhar na área específica do curso?
(Tirar um curso de Matemática e estar a servir à mesa ou a trabalhar como técnico de informática... é ridículo)
Depois, há a verdadeira qualidade dos cursos. Se me pedirem opiniões sobre certos cursos eu posso dá-la, fundamentando a minha opinião... o "desemprego 0" é uma banha de cobra! Não é um verdadeiro critério.
Exemplo: por estar a dar explicações e estar colectado como explicador (para poder passar recibos verdes) não sou considerado desempregado. Note-se que nos meses de Julho e Agosto posso não ter alunos (não é mau sinal, no mês de Julho pode querer dizer que todos os explicandos de 12º safaram-se a Matemática), tenho salário 0, mas tenho de pagar por exemplo a segurança social (e todas as outras contas que temos de pagar como electricidade, àgua...) e não sou considerado desempregado.
Aliás, já vi a instituição de ensino superior que me deu a licenciatura gabar-se de não ter alunos de Matemática no desemprego.
Eu posso garantir que tenho colegas licenciados em Matemática que não trabalham em Matemática...
E penso que ninguém gosta de tirar o curso numa área para trabalhar noutra.
Não enganem os nossos jovens.
Não lhes digam que certos cursos são equivalentes quando são bem distintos.
Não lhes apresentem planos de curso para depois alterá-los durante o curso...
Não lhes garantam empregabilidade com base nestas estatísticas.
Não recomendem aos de 9º ano cursos com Matemática B dizendo que é mais fácil no acesso ao ensino superior quando, depois esses alunos têm de fazer enormes sacrifícios para conseguir enfrentar as disciplinas de Matemática no superior.

As instituições querem é ter alunos. Mas será que alguma realmente se importa com eles? Quando os cursos são formulados, quantos se podem gabar de ter uma série de objectivos e de os conseguir cumprir?

No meu caso, posso garantir que concorri a dois mestrados onde ninguém se preocupou com o meu background, e num deles, cheguei a por uma dúvida, que me foi respondida com "você deu isso na cadeira X", e não me tirou a dúvida... cadeira cujo conteúdo não fez parte do meu curso, e, como revelou mais tarde a minha investigação, nem estava no plano de curso dessa mesma instituição há cerca de 20 anos! (Não estou a inventar! ISTO ACONTECEU!)
Noutra cadeira, quando pus uma dúvida, a resposta que tive foi: "é difícil...", a dúvida não me foi tirada.
Um dia, nas férias, sentei-me com um papel à frente. Pensei no assunto, deduzi meia dúzia de fórmulas, analisei consequências e tirei a minha dúvida. Não, não foi difícil. Das duas uma.
Ou eu sou um génio (não, não sou...) ou o professor simplesmente quis despachar-me sem pensar no assunto.
[Não vou por a hipótese de incompetência, o professor em questão ainda merece o meu respeito]

Portanto, eu não consigo deixar de olhar para certas apresentações de cursos como autênticas vigarices, tornando algumas pessoas e instituições em vigaristas que deviam ser publicamente penalizados por isso mesmo!
Mas isto é apenas a minha opinião...

Sem comentários:

Este blog recusa-se a utilizar o Acordo Ortográfico de 1990