Como já devo ter dado a perceber, dar explicações, sempre foi mesmo a última coisa que me imaginei a fazer na vida.
Há boas razões para isso: tenho de lidar frequentemente com pessoas que não gostam de Matemática.
Todos os anos lectivos há aquela preocupação em ter alunos suficientes, e em garantir o sucesso de quem tem poucas bases ou consegue apanhar pouco nas aulas. Tendo em conta que trabalho com grupos pequenos, os insucessos são raros, mas acontecem. Perceber o que correu nem sempre é fácil porque cada aluno/explicado é diferente. Por vezes uma comparação com um caso de sucesso ilustra diferenças significativas, que podem explicar a diferença de resultados...ou não. Todos somos diferentes.
Para um insucesso, repetir a fórmula não parece ser a melhor opção, mas por mais incrível que pareça, em certos casos, é.
São os insucessos que me fazem perder mais tempo... Penso que toda a gente gosta de ver os seus alunos/explicandos chegar longe, e saber que contribuiu para isso.
Nem que seja porque "um cliente satisfeito" recomenda sempre outro.
No caso de explicações, o nosso trabalho é o de complementar o trabalho de um colega que dá as aulas, e corrigir eventuais falhas de um aluno.
Há professores que não gostam que os seus alunos tenham explicações, outros que não se importam, porque também dão, e finalmente outros que simplesmente não se importam, desde que ajude os alunos.
Como explicadores somos "os outros", não fazemos as verdadeiras avaliações.
Somos uma espécie de prostitutos, que por vezes, um cliente satisfeito consegue passar por nós e nem nos cumprimentar.
Não que já não soubesse à partida que este é o mundo em que vivemos.
No meu caso, eu sou míope... sem óculos vejo mal ou não vejo mesmo a partir de certa distancia, talvez afinal, isso seja bom.
Por outro lado, sei porque "acabei" a dar explicações. Sei que decisões fui forçado a tomar e porque as tomei. E exactamente por isso, continuo de cabeça erguida neste "estranho novo mundo", enquanto ainda há lugar para mim. Preparando material para tentar fazer o alvo esquecer que não gosta de Matemática, que pensa que não tem bases, dando-lhe alguma motivação para tentar trabalhar sem estar dependente de mim.
Mundo estranho, porque por mais anos que passem continua a não ser o meu.
É um mundo de sobrevivência como a selva, mas onde não quero matar para sobreviver.
Um mundo novo, porque todos os anos traz-me caras novas, regras novas e ideias novas.
Afinal, que mundo é o meu? É um mundo que já não existe... um planeta krypton que explodiu, deixando os seus vestígios deformarem-se para kryptonite, que por vezes me atinge..
Neste estranho novo mundo, os amigos contam-se pelos dedos assim como quem não deixou cicatrizes.
"amigos".... tal como quem gosta de Matemática... afinal são raros. Deixando-me muitas vezes bem só num mundo cada vez menos humano e mais digital.
Até à próxima.
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