quarta-feira, 24 de abril de 2013

Guardem as calculadoras por momentos...

O controversa questão do uso das calculadoras voltou à actualidade nacional.

Depois de ter lido a seguinte notícia

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/imperio-das-calculadoras-nas-aulas-tem-os-dias-contados-1592286

Não consegui deixar de soltar um aliviado
"Finalmente."

Para não variar, nos comentários à notícia até lêm-se disparates de pessoas radicais que acham que o ensino está a retroceder "40 anos".
Que exagero! Eu não tenho 40 anos.
Ninguém está a negar que o uso da calculadora pode ter efeitos positivos.
Mas na aprendizagem está a ter efeitos nocivos que não são compensados pelos seus aspectos positivos.
Trata-se de uma tentativa de corrigir um erro!

Ao longo dos anos já me cruzei com pessoas (note-se que estou a falar no plural) que nem sabiam coisas simples como o resultado de 18/2, ou, ainda no tempo do escudo, recorriam à calculadora para saber quanto era 2$50+2$50, ou mais impressionante ainda,  no ensino superior, não sabiam quanto era raiz quadrada de 1 sem usar a calculadora (Estou a falar a sério!)

Mas mais grave do que não saber um resultado, é não saberem fazer manipulações algébricas. E isso acontece muito mais frequentemente do que se possa pensar!

Pessoas que chegam ao secundário e "não sabem", por exemplo, simplificar uma fracção, que alterando a posição das parcelas numa equação ou inequação, mas sem mudar de membro, não mudam de sinais.

Pessoas que têm "memorizado" regras sem as compreender porque estão acomodadas ao facilitismo de "regras mágicas" sem as compreenderem. Isso eu aceitaria de um aluno na escola primária, não de um aluno de 2º ou 3º ciclo.
A esses eu peço que compreendam e manipulem conceitos, sem esquecer o que foi aprendido no 1º ciclo!

Não estou a exigir que um aluno da primária compreenda porque é que o algoritmo da multiplicação ou da divisão funcionam.
Estou a pedir que os saibam fazer e com alguma velocidade.

Argumentos como "estamos a imitar o que tem sido feito com muito sucesso noutros países", quando aplicados ao ensino são muito falaciosos.
Esse "sucesso" é medido por estatísticas que medem aprovações com critérios diferentes dos nossos.
Queremos um ensino para as estatísticas ou um ensino que gere pessoas competentes?
Não vamos ignorar a 100% o que os outros fazem, mas também não faz sentido copiar cegamente o que é feito num grupo de países com outra dimensão, outra história e outra cultura, nem usá-los como argumento!
Se vamos imitá-los, vamos usar como razão os prós e ter em conta os contras. E repito, não usar como argumento, e nem mesmo como nota de rodapé "está a ser feito noutros países"!

Sejam honestos, vendo o estado deste país não preferem um país repleto de competência do que um país de pessoas habituadas ao "facilitismo" e a aldrabar estatísticas?
Somos portugueses! Não somos finlandeses, nem franceses, nem... Porque vamos imitar os outros e não criar algo que se adapte à nossa cultura e ao nosso povo?
Num mundo globalizado não há lugar para ideias nossas na nossa educação?

Pode ser que num próximo passo removam os formulários com derivadas e fórmulas trigonométricas dos exames nacionais do ensino secundário.
Não me venham dizer que saber por exemplo as fórmulas de derivação do produto e do quociente, ou do co-seno da soma e afins é um bicho de sete cabeças!
Deixem de promover o desleixo. Ter essas coisas na cabeça torna os alunos muito mais eficientes!

Saber as tabuadas, os algoritmos da divisão ou da multiplicação, ou mais tarde coisas como trigonometria, exponenciais, logaritmos não é nada do outro mundo nem coisas que só competem a cientistas e engenheiros!
Não estamos a exigir nada hercúleo a ninguém. Estamos a dar-lhes competências que todo o homem ou mulher do século XXI deve ter!

Toda a gente sabe que eu não sou contra o uso de tecnologias! Sou contra o uso abusivo delas!
Aliás, até acho que toda a gente hoje em dia devia ter um conhecimento mínimo de pelo menos uma linguagem de programação, como por exemplo uma das variações do BASIC ou de um dos muitos descendentes da linguagem c. É tão importante como saber uma segunda língua.

Estamos numa altura onde qualquer alteração é vista como progresso e qualquer correcção é vista como retrocesso.
Não sejamos absolutistas! Devemos aprender com os erros e ter a coragem de admiti-los e corrigi-los!
Ninguém está a propor abolir as calculadoras da sociedade.
Só a tornar o seu uso muito mais racional no ensino.

Até amanhã.

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